BnR. Roberto Freire responde a críticas de Raduan Nassar e é vaiado em cerimônia

Ao receber o Prêmio Camões, o escritor Raduan Nassar fez duras críticas ao governo; Roberto Freire revidou e bateu boca com público

 Danilo Verpa/Folhapress
Freire (E) durante a entrega da premiação em São Paulo: reação da plateia

O escritor Raduan Nassar fez um discurso explosivo e antigoverno ao receber o Prêmio Camões, na manhã desta sexta-feira, em São Paulo. “Não podia ficar calado”, disse ele depois de, entre outros assuntos, criticar a indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal. Presente à cerimônia, o ministro da Cultura, Roberto Freire, respondeu às críticas, insinuando que Nassar deveria devolver o prêmio oferecido pelo governo — o Camões, na verdade, é outorgado por Brasil e Portugal. Em meio à troca de alfinetadas, a plateia também participou de forma agressiva, com interrupções ao discurso do ministro e a réplicas da parte dele.

“O Supremo nada fez para impedir que Eduardo Cunha instaurasse o processo de impeachment que derrubou a presidente Dilma, mulher digna. Foi um golpe”, disse Nassar, que, ovacionado, foi aclamado também com gritos de “Fora, Temer”, vindos de uma plateia formada, em sua maioria, por editores, escritores e representantes do mercado editorial.

O discurso de Freire inverteu a ordem natural da cerimônia — esperava-se que Nassar fosse o último a discursar. Assim, depois de ouvir a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo (que, em dois momentos, referiu-se a Raduan como Nasser), o próprio escritor e o embaixador de Portugal no Brasil, Jorge Cabral, Freire respondeu que só os mais velhos realmente sabem o que foi viver durante o regime militar. “Que os jovens critiquem hoje, não há perplexidade, mas quem dá prêmio ao adversário não é representante da ditadura.” “É fácil fazer crítica durante um regime democrático”, continuou.


Neste momento, o crítico literário Augusto Massi interrompeu a fala do ministro e disse: “O senhor não tem direito de estar aqui — deixe a obra de Raduan falar”. A reação provocou tanto apoio como apupos. A fervura política se espalhava pela plateia e houve até uma ameaça de troca de sopapos, interrompida pelo bom senso dos próprios envolvidos.

“Passei a noite em claro, revisando o discurso. Eu o mudei ao menos três vezes”, disse Raduan, que criticou a nomeação de Alexandre de Moraes para o STF, a prisão recente de Guilherme Boulos e a diplomacia de Temer. Também questionou a provocação de Moreira Franco a ministro, medida ratificada pelo STF. “Em sua decisão, o ministro Celso de Mello acrescentou um elogio superlativo a Gilmar Mendes por ter barrado Lula para a Casa Civil. Dois pesos e duas medidas.”

Freire disse que esperava tal reação acalorada que marcou a cerimônia. “As pessoas que agora chamam esse governo democrático de autoritário só podem fazer isso porque vivemos em uma democracia. Se fosse durante a ditadura, nada disso seria possível.” “O Ministério da Cultura (MinC) lamenta, mais uma vez, a prática do Partido dos Trabalhadores em aparelhar órgãos públicos e organizar ataques para tentar desestabilizar o processo democrático”, afirmou a pasta em nota.

No meio de tudo isso, Raduan Nassar deixou o local depois de muitos abraços, beijos, selfies e autógrafos, além de um diploma que representa o prêmio de 100 mil euros, valor arcado igualmente pelos governos brasileiro e português. Roberto Freire, depois de tomar uma água e distribuir abraços, deixou o local antes do final da festa.

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