Decisão política de presentear a legenda será anunciada, entretanto, a partir de um discurso técnico, a mesma estratégia usada no caso de Alexandre de Moraes para o STF
Michel Temer: "O ministro da Justiça é muito importante. Nós vamos escolher no plano pessoal"
O presidente Michel Temer vai contemplar o PMDB com a indicação de um nome, avalizado pelo partido, para o Ministério da Justiça. Mas deve esperar, até o fim deste mês, para anunciar o substituto de Alexandre de Moraes, licenciado da pasta. A intenção do presidente é aguardar até a sabatina de Moraes, indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), na Comissão de Constituição e Justiça, para evitar surpresas. “O ministro da Justiça é muito importante. Nós vamos escolher no plano pessoal”, afirmou ele.
Foi o próprio Temer quem anunciou o prazo de 15 dias, após almoço com o presidente da Argentina, Maurício Macri, no Ministério das Relações Exteriores. O presidente repete o mesmo mantra de que escolherá um nome com base em critérios técnicos, jurídicos e pessoais, a exemplo do que fez com o próprio Moraes, que ontem se desfiliou do PSDB.
Mas, no Congresso, é dado como certo que o PMDB venceu a queda de braço com o PSDB, que comandava o Ministério da Justiça com Moraes, filiado ao partido e indicado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. A equação a ser montada é como agradar o PMDB do Senado sem deixar transparecer as digitais do partido. O futuro ministro terá sob seu comando a Polícia Federal, que realiza as operações da Lava-Jato e de outras investigações que assombram o governo.
“O PMDB não quer indicar o ministro da Justiça, essa é uma atribuição do presidente da República. Mas estamos aqui à disposição para ajudar o governo no que ele precisar, tanto na aprovação das reformas macroeconômicas quanto na elaboração de um plano nacional de segurança”, confirmou o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Provocado se teria interesse no cargo, Renan — que foi ministro da Justiça durante o governo Fernando Henrique Cardoso —, brincou: “Eu não costumo pleitear o mesmo cargo que ocupei antes. Isso vale apenas para a presidência do Senado”, ironizou.
Dentro da bancada, ninguém assume diretamente que tem interesse no cargo. O receio é passar a imagem pública de que o partido, que tem seus principais caciques investigados, tenta tolher as investigações do Ministério Público. Ou, como disse o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), em gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, “estancar a sangria da Lava-Jato”.
Por isso, uma alternativa seria apoiar o nome de um especialista, mas com bom trânsito no partido. O sonho de consumo dos peemedebistas é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim. No próprio governo, contudo, a opção apresenta-se como praticamente inviável. Jobim foi advogado da Odebrecht e, recentemente, tornou-se sócio e membro do conselho de Administração do BTG Pactual.
Um nome que surgiu novamente é do advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira. Amigo de Temer há 40 anos, Mariz chegou a ser cogitado para a pasta antes da decisão por Moraes. Acabou não virando ministro por conta de uma entrevista dada à Folha de S.Paulo, na qual criticou as delações premiadas e defendeu que a PF não poderia ficar preocupada apenas em combater a corrupção.
Ex-aluno de Temer e autor do prefácio do livro de poesias escrito pelo presidente, o ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto também é mencionado como ministeriável. O nome não agrada tanto o PMDB, mas, no auge da crise penitenciária, no início do ano, Britto reuniu-se diversas vezes com o presidente para discutir a questão. Na época — antes mesmo do acidente que vitimou Teori Zavascki — Britto acabou cogitado para substituir Moraes no Ministério da Justiça.
No atual cenário, o PSDB está praticamente descartado como opção para comandar a pasta. Os nomes especulados na bancada são do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) e do líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Em entrevista ontem, o senador Aécio Neves (MG), presidente do partido, evitou fazer especulações e afirmou que o colega mineiro prefere manter as atividades no Senado. “Tenho uma cautela enorme em antecipar nomes para os ministérios. Essa é uma prerrogativa intransferível do presidente da República. Mas posso antecipar que Anastasia não tem se mostrado disposto a se distanciar das atividades no Senado. Vamos aguardar que o presidente possa fazer uma indicação à altura dos enormes desafios que envolvem essa área.”
A lista
Quem são os nomes cotados para substituirAlexandre de Moraes no Ministério da Justiça
» Aloysio Nunes Ferreira
Líder do governo no Senado, foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique, deputado federal e candidato a vice na chapa de Aécio Neves na campanha de 2014
» Antonio Anastasia
Ex-governador de Minas Gerais e senador pelo PSDB, foi relator do impeachment no Senado. É um nome com trânsito em praticamente todos os partidos da Casa
» Antonio Cláudio Mariz de Oliveira
Advogado e amigo do presidente Temer, chegou a ser cotado para a pasta pouco depois do impeachment. Mas uma entrevista criticando a Lava-Jato impediu a sua escolha
» Carlos Ayres Britto
Ex-ministro do STF, ex-presidente do CNJ, tornou-se conselheiro direto de Temer
» Nelson Jobim
Nome dos sonhos do PMDB. Ex-presidente
do STF, ministro da Defesa e da Justiça, deputado constituinte. Tem hoje uma das bancas mais requisitadas do país
Crise enfrentada com um interino
No Espírito Santo, convive-se com mais de 60 mortos e tropas da Polícia Militar aquarteladas, proibidas de sair para o serviço pelos próprios parentes, que pedem melhores condições salariais. O Brasil acordou em 2017 diante de uma das mais graves crises de segurança pública de sua história, expressa em números indiscutíveis: 117 mortos, a maior parte deles decapitados, em rebeliões dentro de presídios de Natal, Boa Vista e Manaus.Mas este mesmo Brasil vai ficar, possivelmente até o fim deste mês, com um ministro da Justiça interino. Por quê? Porque o governo quer esperar a confirmação de Alexandre Moraes como novo integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). Vai que, por um gesto imponderável do destino, algo acontece e Moraes não pode mais ser ministro do STF. Ele poderia reassumir o cargo no ministério. Até lá, o Brasil que conviva com seus mortos nas ruas e com a violência que amedronta os brasileiros.
Porque um ministério, que já foi considerado um dos mais nobres da Esplanada, hoje não atrai. E qual a razão para a falta de atratividade? É um ministério “incapaz de fazer política”. Não dá votos, não rende dividendos, só administra problemas. Lidar com uma Polícia Federal autônoma , com governadores protestando por não conseguirem lidar com seus policiais militares ou civis, ou com a necessidade de elaborar um plano de combate à violência, deixou de ser um prêmio. Em tempos de busca de atalhos, construir caminhos para mudança provoca uma preguiça generalizada. (PTL)
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