BnR. Bauru Nem 10% dos moradores de rua querem deixar o vício e reunião articulará ações

Segundo a PM, encontro envolverá vários órgãos de Bauru em busca de saída multidisciplinar para aumento de usuários que perderam vínculos familiares




Higienização, estigma e preconceito
Matéria publicada no Jornal da cidade de Bauru 27/06/2017, demonstra que as cidades não estão preparadas para tratar com questão tão complexa. Abordar este problema com o apresentado pelas “autoridades” é se fixar no tripé higienização, estigma e preconceito.
Os moradores de rua são vistos como um incômodo. Estas pessoas têm suas próprias histórias, familiares e necessidades, por isso não se pode tratar a questão com abordagens generalistas, como se todos fosse iguais e padecessem do mesmo problema.
Estão nas ruas porque são usuários de drogas (estigma), o estigma leva ao preconceito que pode servir para justificar violências por parte do Estado, como a higienização. Nem todo morador de rua é traficante ou mesmo dependente químico.
Nestas situações, os especialistas afirmam a necessidade de se conhecer a fundo os moradores de rua, quantos efetivamente estão dentro de uma cidade, para partindo deste ponto, também ouvi-los para a adoção de qualquer política pública perene.
No Plano Municipal de Direitos Humanos da Cidade de Bauru, existem uma série de iniciativas que podem se aplicadas de forma combinada, ajudar a construir ferramentas para atuar com esta população.
O prefeito Municipal Clodoaldo Gazzetta e seus secretários e secretárias, precisam tomar conhecimento do Plano e aplica-lo.
Superar o vício em drogas não é tarefa fácil e, para quem vive nas ruas, sem vínculos familiares ou sonhos a serem perseguidos, o desafio é ainda maior. Segundo a Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (Sebes), nem 10% dos moradores de rua de Bauru conseguem ter a disposição necessária para se livrar da dependência química. O tema ganha maior relevância nesta semana, uma vez que, nessa segunda-feira (26), foi comemorado o Dia Mundial de Combate às Drogas.
Já desacostumados a uma rotina regrada, moradores de rua tendem a resistir mais em aderir ao tratamento, que demanda disciplina, e à possibilidade de serem acolhidos em uma das casas de passagem mantidas pela Sebes. "A maioria é de homens até perto de 50 anos de idade. Muitos que tentam acabam reincidindo", lamenta Fátima Monari, diretora do Departamento de Proteção Social da secretaria.
Em razão do crescimento do número de moradores de rua em Bauru, que a Sebes atribui, em grande parte, à crise econômica brasileira, uma reunião envolvendo diversos órgãos da cidade deverá ser realizada para articular ações. Segundo o comandante do 4.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (4.º BPM-I), tenente-coronel Flávio Jun Kitazume, o encontro deverá ser agendado dentro dos próximos dez dias e envolverá algumas secretarias municipais, incluindo Saúde e Sebes, além da própria PM, Conselho Tutelar, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Consegs.
"Todos os fatos que estão fugindo da normalidade serão discutidos, buscando encontrar a saída multidisciplinar que o problema demanda. Não temos uma fórmula, porque a questão é bastante complexa, mas caminhos precisam ser buscados, porque ela afeta toda a sociedade", pondera Kitazume.


Fátima ressalta que dependentes químicos, normalmente de crack e álcool, vão parar nas ruas quando as famílias já não conseguem mais lidar com as consequências que o consumo de drogas provoca dentro do ambiente doméstico. Desentendimentos e furtos dentro de casa se tornam frequentes e o rompimento do vínculo familiar tende a piorar o problema.
A diretora explica que a rede de atenção especializada para cuidar dos usuários é estabelecida de maneira compartilhada com a Secretaria Municipal de Saúde. A pasta foi acionada na tarde de ontem, porém, a assessoria de comunicação não conseguiu colocar nenhum representante em contato com a reportagem para conceder entrevista.
A adesão ao tratamento contra a drogadição, realizado dentro do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), precisa ser voluntária e o morador pode ser acolhido, havendo vagas, em uma das casas de passagens da Sebes. "Mas a maioria resiste em retomar uma vida com regras para tomar banho, se alimentar e dormir. E o alto poder viciante de drogas como o crack e o álcool não contribui neste processo", lamenta.
Se houver indicação médica, o paciente pode, ainda, ser encaminhado a uma comunidade terapêutica, onde ficará internado. A Sebes também realiza abordagem social noturna de usuários durante a semana e utiliza serviços como o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que recebe, diariamente, cerca de 120 pessoas.

'Cracolândia' dispersou
Segundo Fátima Monari, atualmente, usuários se aglomeram em vários pontos da cidade, já que a antiga "cracolândia", que existia ao longo da linha férrea, foi dispersada em razão do trabalho de policiamento ostensivo realizado no Centro da cidade. Entre as principais regiões que eles passaram a ocupar e que já foram mapeadas pela PM, estão a Antiga Estação Ferroviária; o viaduto JK, na rua Azarias Leite; a Praça Washington Luiz, em frente à Igreja de Nossa Senhora Aparecida; a avenida Alfredo Maia; e imediações do Terminal Rodoviário.


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