Em maio, a taxa média do rotativo do cartão de crédito alcançou 471,3% ao ano, a mais alta já registrada pelo Banco Central. Instituições financeiras culpam a inadimplência
O brasileiro não tem para onde correr. Além da inflação alta, os consumidores estão tendo que arcar com juros cada vez mais elevados. Em maio, mesmo com a retração da economia, a taxa média cobrada das famílias subiu para 71,7% ao ano, segundo o Banco Central (BC), a maior de toda a série histórica, iniciada em março de 2011. E o pior ainda está por vir, segundo analistas, que preveem mais aumentos dos encargos nos próximos meses.
A lógica do mercado é a de se precaver contra a inadimplência dos clientes. Com o aumento do desemprego e a diminuição da renda familiar, os consumidores tendem a garantir o consumo de bens essenciais, como alimentos, deixando para honrar compromissos financeiros apenas se houver espaço no orçamento. Nesse cenário, bancos e demais instituições financeiras continuarão elevando os juros de maneira preventiva, sobretudo as taxas de créditos pré-aprovados, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, que alcançaram patamares recordes no mês passado.
A lógica do mercado é a de se precaver contra a inadimplência dos clientes. Com o aumento do desemprego e a diminuição da renda familiar, os consumidores tendem a garantir o consumo de bens essenciais, como alimentos, deixando para honrar compromissos financeiros apenas se houver espaço no orçamento. Nesse cenário, bancos e demais instituições financeiras continuarão elevando os juros de maneira preventiva, sobretudo as taxas de créditos pré-aprovados, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, que alcançaram patamares recordes no mês passado.
Já os juros cobrados no cheque especial ficaram em 311,3% ao ano, em média, os mais altos desde julho de 1994. Em relação ao mesmo período do ano passado, a elevação foi de 79,3 pontos.
Não é à toa que as taxas tenham subido tanto nessas duas linhas de crédito. Por serem concedidas sem tantas exigências previas, elas são as que representam maior risco para o sistema financeiro. “Há uma relação direta da elevação das taxas com a inadimplência e o ambiente de incertezas, sobretudo nas modalidades de maior risco”, avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Em maio, a inadimplência atingiu 6,3% das operações, superando uma estagnação de cinco meses em que a taxa ficou em 6,2%. Diante dos riscos de aumento dos atrasos de pagamento, os bancos, para garantir os lucros, também elevaram os spreads — a diferença entre o que pagam na captação dos recursos e o quanto cobram nos empréstimos. Na média do sistema financeiro, essa diferença atingiu 58,7 pontos percentuais, um avanço de 1,2 ponto em relação a abril. Na comparação com maio do ano passado, o crescimento foi de 14,3 pontos.
Inflação
A taxa média de juros cobradas das famílias está aumentando continuamente desde janeiro. A alta não pode ser atribuída à trajetória da taxa básica de juros (Selic), definida pelo BC, que se mantém estagnada a 14,25% ao ano desde setembro de 2015. “Os encargos estão subindo pelo quadro de risco mesmo”, analisou o analista Thiago Biscuola, da RC Consultores. Por conta disso, ele prevê novas elevações, mesmo diante da perspectiva de corte da taxa referencial do mercado financeiro.
Para Biscuola, embora alguns setores apresentem maior confiança na economia, a expectativa de melhora ainda é muito incipiente. Ele prevê uma taxa de desemprego de 11,4% ao fim de 2016, com o número de desempregados chegando a 12,2 milhões. “A inadimplência só não está mais alta porque os próprios bancos tomaram a precaução de reduzir as concessões de crédito. Mas, com mais postos de trabalho sendo fechados, as instituições vão continuar precificando um risco maior para o recebimento dos empréstimos”, ponderou o economista.
Outro fator que reforça as previsões de alta dos juros de mercado é a perspectiva de um corte moderado da Selic pelo Banco Central. Com a inflação de alimentos ganhando força e puxando o custo de vida para cima, Biscuola projeta que a taxa básica fique em 13,5% ao ano no fim de 2016, em vez de cair de forma mais acentuada, como vinham sendo previsto no mercado. O analista da RC Consultores acredita que os encargos devem deixar de subir entre outubro a dezembro, mas se manterão em nível alto. “O maior problema é que, tal como o mercado de trabalho levará tempo para se recompor, as taxas de juros tardarão a diminuir. Subiram rápido, mas o movimento de queda será mais lento.”
Susto
Os juros elevados estão assustando os consumidores. O manobrista Zacarias Lino de Freitas, 58 anos, sacou R$ 800 no cheque especial em fevereiro para ajudar a filha, que cursa odontologia, com a compra de materiais para faculdade. Mas se assustou com os encargos de 17% ao mês, o que significa absurdos 558% ao ano. “É uma taxa muito alta. Usei em uma situação de emergência, mas, felizmente, consegui quitar o compromisso. Certamente, não pretendo recorrer novamente a esse tipo de crédito”, disse Freitas.
Para o consultor Roberto Luis Troster, ex-economista chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), enquanto o modelo de crédito não for alterado, as taxas se manterão em patamares elevados. E a tendência é de que, em períodos de recessão, as altas se acentuem. “É um modelo inadequado e ninguém quer mudar. Tem que começar a alterar algumas coisas, como a estrutura tributária”, sustentou.
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