Uma força-tarefa foi criada para apurar todos os esquemas que podem ter movimentado R$ 15 bilhões em liberações de empréstimos e aplicações dos fundos de pensão
Pelo menos 50 casos de corrupção são investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF) desde julho de 2016 nas operações Sépsis, Greenfield e Cui Bono. O que mais chama a atenção dos investigadores é que o ex-deputado Eduardo Cunha, o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, o empresário Lúcio Funaro, acusado de ser operador do parlamentar, e a empresa Eldorado, controlada pela J&F, dos irmãos Batista, são citados em todos os inquéritos. Uma força-tarefa com apoio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), da Receita Federal e do Banco Central (BC) foi criada para apurar todos os esquemas que podem ter movimentado R$ 15 bilhões em liberações de empréstimos e aplicações dos fundos de pensão.
Para os investigadores, a atuação dos supostos criminosos tem correlação com investimentos dos fundos de pensão, do Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) e de financiamentos liberados pela Caixa Econômica Federal. Eles detalham que a coincidência das aplicações das entidades fechadas de previdência complementar, com aportes do FI-FGTS e a liberação de financiamentos da Caixa, apontam para decisões políticas, em troca de propina. Além disso, procuradores e delegados acreditam que as avaliações de riscos e supervalorização de ativos são comuns na maioria das operações aprovadas.
As investigações são coordenadas pela Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF). O procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes comanda os trabalhos e, segundo o Correio apurou, ele pediu à Procuradoria-Geral da República (PGR) desabono de 80% dos trabalhos que acumula para cuidar exclusivamente das operações em curso. Além dos 50 casos, ele assume algumas procuradorias quando os colegas estão de férias.
No caso da Operação Sépsis, ela foi remetida a PRDF após Cunha perder o foro privilegiado com a cassação do mandato. Lopes requereu à Justiça que ratificasse a denúncia da PGR e correlacionasse o caso com a Operação Greenfield. No primeiro caso, Eduardo Cunha é acusado de cobrar propina que chegava a até 1% dos valores liberados pelo FI-FGTS para empresas que o procuravam para liberar as aplicações.
As investigações ocorreram após delações de Fábio Cleto e a do ex-diretor de Relações Institucionais do Grupo Hypermarcas Nelson Mello. Cleto afirmou que Cunha ficou, por exemplo, com 1% dos R$ 940 milhões liberados pelo FI-FGTS com a Eldorado para construção de uma fábrica em Três Lagoas (MT). As apurações indicam que o ex-presidente da Câmara teria recebido propina para liberar pelo menos 12 operações do FI-FGTS. A liberação dos recursos teria ocorrido após um pedido de Joesley Batista a Funaro, segundo denúncia do MPF. Cleto, Cunha e Funaro são acusados pelos procuradores por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional.
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