Diante do cenário de proliferação da doença, Pedro Fernando da Costa Vasconcelos acredita que crianças de todo o território - e não apenas para as 19 regiões endêmicas devem ser vacinadas
"O quadro no Distrito Federal é confortável, mas os casos importados e os do Entorno, não temos como evitar"
Na última semana, o surto de febre amarela no Brasil colocou em estado de atenção o Ministério da Saúde. A rapidez com que a doença avançou por sete unidades da Federação obrigou a pasta a distribuir 11,5 milhões de doses extras da vacina. Esta é a maior explosão de casos desde 2000. São 87 infecções — média de 3,2 por dia em 2017 — e 442 estão em investigação. Pelo menos 42 pessoas morreram e outros 65 óbitos ainda vão ter a causa confirmada.
A maioria dos diagnósticos passam pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), laboratório de referência nacional, no Pará. Lá, o volume de trabalho aumentou 30%, segundo o diretor-presidente da instituição, o médico virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, 59 anos. Ele faz parte do Comitê de Febre Amarela da Organização Mundial da Saúde (OMS), que debate o problema. Ao longo da carreira, publicou mais de 50 artigos científicos sobre o mal e se especializou na Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva ao Correio, ele defende a ampliação da vacinação para todas as crianças do país, por meio da Política Nacional de Imunização (PNI) — atualmente a aplicação ocorre apenas em 19 zonas de risco, entre elas, o DF. A alteração deve ocorrer em abril, adiantou. Pedro alerta que o comportamento do vírus está mudando: a praga tem se aproximado cada vez mais do litoral, região em que a cobertura vacinal é baixa. “Essa associação traz uma expansão imensa do vírus”, destaca.
As visitas à capital federal estão mais frequentes. Na segunda e na terça-feira, ele participou de reuniões no Ministério da Saúde. Amanhã, viaja para o Espírito Santo, considerado o estado mais vulnerável neste momento. “Durante o surto de 2008, Brasília centralizou o problema. Houve morte de macacos pela doença em áreas muito próximas à população. Hoje, o cenário é mais confortável, mas a vigilância deve continuar”, frisa. Entretanto, o médico ressalta o risco para casos no Entorno.
Podemos viver no DF episódios como os de 2008, quando ocorreram 13 casos e oito mortes?
Tivemos casos de mortes de macacos no Parque da Cidade e na Água Mineral, que são espaços muito próximos de áreas urbanas. Hoje, o DF tem uma das melhores coberturas vacinais do país. Contra a febre amarela, a estatística chega a 101,77%, a maior do país. O importante é que o sistema de vigilância esteja sensível para se ter um maior panorama do que está acontecendo.
O Entorno preocupa?
Os casos em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Tocantins vão ocorrer sempre. São áreas endêmicas da doença, em que o vírus circula normalmente. O quadro no DF é confortável, mas os casos importados e os do Entorno, não temos como evitar.
A procura por vacina aumentou 15% em comparação com o ano passado. Há motivo para a população ficar apreensiva?
A febre amarela, por ter uma letalidade maior que a dengue, por exemplo, sempre assusta mais. Devemos ter tranquilidade, o pânico, neste momento, não ajuda em nada. O alerta é para aqueles que não têm duas doses da vacina e que vão para as áreas que estão em surto.
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