A rebelião que resultou na morte de 56 detentos em Manaus deixou em evidência a rivalidade entre o PCC e o Comando Vermelho e colocou em alerta o sistema penitenciário da cidade
O massacre de presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, vai além de uma rebelião. A chacina terminou com 56 mortos, demonstra a guerra instalada entre as facções criminosas mais poderosas do país e ecoa no Distrito Federal e em Goiás. O Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa com origem em São Paulo, tem lugar cativo, ainda que de forma tímida, no Complexo Penitenciário da Papuda e também extrapola as barreiras do presídio. Monitoramento da Polícia Civil do DF revela que os integrantes estão em Planaltina, em Sobradinho e no Gama. Mas a maior parte desses bandidos que atuam na capital federal e em Goiás mora em cidades do Entorno, como Águas Lindas, Planaltina, Valparaíso, Cidade Ocidental, Formosa e Novo Gama.
A primeira identificação do PCC no Distrito Federal remonta a 2001, quando, em março, o maior líder do grupo chegou ao DF para cumprir pena. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, escolheu aliados de confiança e criou um braço da organização denominado Paz, Liberdade e Direito (PLD). Em 18 de outubro de 2001, explodiu a última revolta registrada no sistema carcerário brasiliense. Desde então, são mais de 15 anos que a facção tenta se fortalecer na região. Mas foi entre 2011 e 2012 que os criminosos estabeleceram como meta entrar no DF.
A organização rival, o Comando Vermelho (CV), originário do Rio de Janeiro, se articula para invadir a capital há dois ou três anos, com sucessivas investidas. Apontada como a terceira maior facção do país, a Família do Norte (FDN) ainda não conquistou espaço significativo, mas mostrou poder com a matança de 56 presos no presídio de Manaus, alguns integrantes do PCC. Além dessas três, há, no DF, pequenos grupos espalhados em regiões administrativas que tentam criar algum tipo de força, como no Gama e no Recanto das Emas.
A prova de que essas facções tentam se infiltrar na região são os flagrantes frequentes. Em outubro de 2015, a Polícia Civil prendeu um grupo que atuava dentro da Papuda e em cadeias do Entorno. Os acusados estavam envolvidos, principalmente, com tráfico de drogas, extorsões e roubos e tentavam articular o PCC em Brasília (leia Memória). Em maio deste ano, um homem que agia para fortalecer a facção na capital também foi preso. Maycon Wanderson Holanda, 35 anos, era foragido da Justiça. Foi surpreendido no Hospital Regional de Planaltina, onde deu entrada após ter sido vítima de uma tentativa de homicídio em Formosa. Além disso, o Correio apurou que age no DF uma quadrilha ligada ao Primeiro Comando da Capital especializada em aluguel de armas. O bandido paga pelo empréstimo do armamento, pratica o crime e, depois, o devolve.
Com acesso restrito aos celulares, ao contrário do que ocorre em outros presídios do país, são frequentes as tentativas de comunicação entre os integrantes das organizações nos presídios brasilienses por meio de cartas apreendidas por servidores. “Existem alas de facções (dentro da cadeia), mas a diferença é que, no DF, eles não têm acesso à principal ferramenta, que são os celulares. A entrada é muito tímida, e eles dependem dessa tecnologia para a comunicação”, afirma o delegado adjunto da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), Adriano Valente.
A partir de um estatuto, os criminosos ligados a essas facções distribuem tarefas, mantêm uma rede de contatos e contribuem financeiramente com a organização. O delegado Adriano acredita que há cerca de 8 mil integrantes do PCC no Brasil e fora do país, como no Uruguai, no Paraguai e na Bolívia. “Já conseguimos identificar conversas em que o objetivo deles é entrar aqui por Brasília por ser o centro do poder. Eles só não conseguiram, até hoje, se instalar definitivamente no DF em razão da atuação firme e do monitoramento ininterrupto da Deco, com apoio da inteligência.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário