Estados receberão dinheiro para construir mais penitenciárias. O presidente Michel Temer classificou o episódio no Amazonas como "acidente pavoroso"
Após ser criticado pelo silêncio diante da maior rebelião em um presídio desde o massacre do Carandiru, em 1992, o presidente Michel Temer falou pela primeira vez sobre a tragédia em que 56 presos foram mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, entre os dias 1º e 2, e classificou o episódio como “acidente pavoroso”. A fala acabou retificada à noite em uma mensagem nas redes sociais explicando que o termo “acidente” é sinônimo de “tragédia”. O discurso do presidente ocorreu em uma reunião ministerial sobre o Plano Nacional de Segurança, cujo lançamento acabou apressado como uma resposta da União à crise, acompanhado do anúncio de verbas para a construção de mais penitenciárias. Embora adote o discurso formal de que o episódio no Amazonas é um fato isolado, o governo tem informações sobre riscos de rebeliões em outros presídios do país.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, atribuiu à empresa terceirizada Umanizzare a maior parte da culpa. Mas o receio de que a briga da facção Família do Norte, ligada ao Comando Vermelho (do Rio de Janeiro), com o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, reverbere pelo país acabou discutida durante a reunião com nove ministérios ontem pela manhã.
Na ocasião, no discurso de abertura, Temer procurou eximir a União da responsabilidade pelo massacre. O presidente classificou como “fenômeno curioso” recorrentes pedidos de ajuda de estados à União para dar suporte na segurança pública, mas ponderou que o problema nas penitenciárias é nacional. Em seguida, anunciou o investimento de R$ 430 milhões para a construção de cinco presídios federais, que ainda não têm local nem prazo definido. O valor é parte do plano, que já tem sido criticado por especialistas com acesso às prévias do pacote.
A fala ocorreu após Temer lamentar a rebelião. “Quero solidarizar-me com as famílias que tiveram seus presos vitimizados naquele acidente pavoroso que ocorreu no presídio de Manaus. Nossa solidariedade é portanto governamental e apadrinhada por todos aqueles que aqui se acham”, disse no início do discurso. Temer reconheceu a situação caótica dos presídios, superlotados, e disse que é preciso separar os detentos por tipo de crimes, idade e sexo. Em 2014, havia no Brasil 622 mil presos, mas apenas 372.000 vagas. O complexo de Manaus, por exemplo, poderia receber 454 presos, mas abrigava 1.244 pessoas.
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