Nesta quinta-feira, 6 de outubro, Ulysses Guimarães completaria 100 anos.
Um dos mais destacados políticos da história brasileira, ele foi o "Senhor Diretas", atuando diretamente pelo voto popular nas eleições de 1984, quando a ditadura militar estava em seus últimos anos no comando do país.
Esteve ao lado, por exemplo, de Casagrande, Sócrates e Osmar Santos no grande comício realizado na Praça da Sé em janeiro daquele ano.
O paulista de Itirapina, perto de Rio Claro, morreu em 12 de outubro de 1992 após um acidente de helicóptero na região de Angra dos Reis (RJ) - seu corpo nunca foi encontrado. Torcedor do Santos, Ulysses Guimarães chegou ao clube na década de 1940, e foi ali que a política começou a fazer parte de sua vida.
No ano seguinte, já foi nomeado diretor-presidente da sub-sede do time em São Paulo pelo então mandatário alvinegro Aristóteles Ferreira. Em 1944, Antônio Feliciano se tornou presidente do Santos, e Ulysses Guimarães era um dos cinco vices, ocupando-se das relações internacionais do seu clube de coração.
A relação próxima entre Antoninho e Ulysses, então, chegou à política. Conforme relatado no livro "Perfis Parlamentares", da Câmara dos Deputados, foi o homem-forte santista "que em 1945 o levaria para o PSD (Partido Social Democrático), na fundação da seção paulista do partido, e principalmente o treinaria no contato popular".
Mesmo com a eleição de Athiê Jorge Coury, o mais vitorioso dos presidentes do time da Baixada (1945-1971), Ulysses Guimarães continuou como vice.
Ele deixou a diretoria alvinegra em 1947 para nunca mais voltar.
A partir daí, política e Ulysses Guimarães caminharam juntos até o fim da vida do mais ativo parlamentar brasileiro do século passado.
Ainda antes de ser conhecido nacionalmente, o "Senhor Diretas" deu nome a um troféu conquistado pelo Santos. Em 26 de agosto de 1945, em duelo válido pela Taça Doutor Ulysses Guimarães, o time alvinegro ganhou do Linense por 2 a 1 no Estádio dos Eucaliptos, em Lins (SP).
O Santos, naquele dia, entrou em campo com: Zezinho; Artigas e Toninho; Nenê, Ayala e Tico; Jorginho, Aveiros, Zeca Ferreira (Adolfrises), Antoninho e Rubens. Os gols foram marcados por Antoninho e Jorginho.
Mesmo longe, o "pai" da Constituição de 1988, carta-magna brasileira após o fim da ditadura militar, não deixou de dar seus pitacos no futebol.
Em artigo publicado no jornal O Globo após a vitória do Brasil sobre a Escócia na Copa do Mundo de 1990, Ulysses Guimarães "cornetou" o então técnico da seleção, Sebastião Lazaroni. O título foi bem sugestivo: "É preciso jogar sem medo".
O parlamentar aproveitou o mau futebol do time canarinho para cutucar um de seus adversários, o então presidente da República, Fernando Collor.
"Futebol é gol ou real ameaça de gol. Isso não houve. O Lazaroni vai ter tanta dificuldade em explicar o que ocorre com o time quanto o Collor sobre os cem dias de seu governo. O Lazaroni faz jus a pertencer à malograda equipe de assessores do presidente Collor. Menos a jurídica. Seria injustiça dizer que o nosso técnico erra mais que os assessores jurídicos do governo. Mas, do jeito que estamos vendo o desempenho de sua equipe, não falta muito para chegar lá. O Lazaroni comete o prodígio de inverter o velho conselho: não se mexe em time que está ganhando. Ele não mexe no time que está jogando mal. Ele e o Collor. Mas do governo cuidam seus líderes no Congresso", escreveu.
"Mas eu não tenho nada com o governo, meu negócio é Lazaroni. Ele custou a tirar o Romário, com o chumbo de quatro meses de inatividade nos pés. E não tirou o Careca, que todo o mundo estava careca de saber que jogava mal. Boa parte de nossos apelidados técnicos está liquidando com o proverbial jeitinho no futebol brasileiro. Jeitinho no campo é a improvisação, a criatividade, o talento, a imaginação. No futebol, o jeitinho teve o nome de Garrincha. Abafaram o talento com as tais jogadas ensaiadas, esquemas etc. Quando vi nos jornais os bonecos de Lazaroni simulando a barreira, tremi de medo. O futebol, como o samba, não se aprende na academia".
"Como alívio para nossa frustração, dizem que estamos classificados. Não convence, mas consola. Vamos torcer. Mais que torcer, rezar. O inesquecível Nélson Rodrigues cunhou a frase genial 'A seleção é a pátria de chuteiras'. Mas chuteiras que chutam em gol. Até agora, chutaram a grama. Nós, torcedores, fazemos nossa parte: torcemos, rezamos pelos nossos rapazes. Estes devem fazer a sua, trazendo o caneco para o Brasil. Ninguém tem dúvidas de que é preciso mudar. Como está não vai, principalmente quando teremos que enfrentar seleções mais competentes", disse, quase em tom premonitório.
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